Lisboa, a casa longe de casa
Mistura perfeita de aspectos culturais e ambientais que nos remetem às nossas origens e um convite à exploração
Sol, praia, comida bem temperada e deliciosa, parquinhos infantis abundantes, natureza, segurança e facilidades de um país desenvolvido... tudo isso com um toque mágico: muita história, cultura, uma arquitetura fotogênica ao extremo e um povo que fala a sua língua! Para mim, Lisboa é casa longe de casa. Segunda parada na Europa em nossa jornada de volta ao mundo em família, é o lugar que lembra minhas raízes brasileiras e, ao mesmo tempo, oferece tanta novidade para explorar. É onde adoro me perder pelos bairros, exercitar as canelas nas ladeiras e fotografar detalhes. É praia de água gelada e transparente, é Tejo, é língua portuguesa que tanto amo e seus falsos cognatos engraçados, é vento, é senhorinha mal-humorada, é azulejo antigo, é TimeOut Market, é Fernando Pessoa(s). Foi a primeira viagem internacional da Aisha com 4 meses, foi a segunda maratona do Alex e a primeira maratoninha das crianças no ano passado. Lisboa, conheço-te pouco, porque mergulhar na tua história exige mais do que até agora consegui dedicar, mas te conheço o suficiente para te amar! (Floripa, não fique com ciúmes, rsrs! Amo-te também! ;))
A passagem por aqui foi, como em outras vezes, êxtase. O Pavilhão do Conhecimento ganhou o coração das crianças. Localizado em um prédio que recebeu prêmios arquitetônicos e sediou a EXPO’98, é um espaço que promove a divulgação científica e o faz proporcionando experiências interativas e divertidas para os pequenos. Eles mergulham nas atividades, testam conceitos e aprendem na prática. Dá para passar o dia facilmente aqui.
Ao lado do Pavilhão fica o Oceanário de Lisboa. É o segundo maior oceanário da Península Ibérica, com 20mil metros quadrados, e promove pesquisa e conscientização sobre a biologia marinha. As crianças ficaram impressionadas (e os adultos também). Ainda na freguesia do Parque das Nações, consegue-se encaixar um passeio de Telecabine (teleférico). Inclusive, pode-se combinar os ingressos das duas últimas atrações. A viagem dura 12 minutos, e se vê o rio Tejo, um panorama do Parque das Nações, a Doca dos Olivais, a ponte Vasco da Gama (a mais longa da União Europeia, com 12.3 km de extensão), entre outros. Se as crianças ainda quiserem gastar energia, vale visitar os parquinhos excelentes que ficam nas redondezas (Parque infantil Heróis do Mar e Parque infantil do Tejo). Por fim, para felicidade geral da família, o shopping Amoreiras abriga (além do ar condicionado, rsrs!) um supermercado excelente para garantir um lanchinho e uma praça de alimentação completa.
Perder-me nas ruas de qualquer cidade é um dos meus passatempos preferidos em viagens. Com a presença das crianças, no entanto, o mapeamento de parquinhos infantis influenciou bastante a nossa rota. A praça Jardim da Estrela, inaugurada em 1852, abriga dois parques excelentes. Mas, no auge do verão, procuramos opções em que os pequenos pudessem se refrescar - e não é que encontramos o Jardim do Torel, que hospeda não apenas um parquinho, mas também uma piscina gratuita? Situado numa colina, a praça tem uma vista incrível (vídeo a seguir), mas eles correram para aproveitar a “praia urbana” que fica logo abaixo, acessível por uma escada. Outro parquinho, esse efetivamente localizado à beira-mar, é o da Praia de Carcavelos. O barco de madeira fez o Kai se divertir à beça, enquanto a Aisha passou horas na tirolesa (baixinha e segura). Por fim, o parque infantil do Jardim Municipal de Oeiras foi bem aproveitado por nós, já que nos instalamos na região.
Ficar em bairros mais afastados do centro tem suas vantagens e nos força a olhar para a cidade de uma perspectiva diferente. Para sair um pouco da muvuca, alugamos um Airbnb em Paço d’Arcos, com acesso rápido e fácil a várias praias por um caminho muito agradável que costeia o mar (na verdade, a desembocadura do Rio Tejo no mar). Além da paisagem linda e da caminhada tranquila, passamos por monumentos históricos, como o Forte de São João das Maias, datado de 1644. O calor convidou a um mergulho na água fria e cristalina, e o Kai adorou observar peixinhos com outras crianças. Cansados do sol, descobrimos uma barraca da biblioteca pública na praia, com espaço para sentar, desenhar, ler um jornal ou uma revista. Surpresas boas e inesperadas são sempre bem-vindas!
Próximo dali, o MAAT, Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, que fica às margens do Rio Tejo e tem uma arquitetura moderna e minimalista, foi outro destaque. As exposições eram belíssimas. Uma delas, sobre o plástico, com partes interativas, captou a atenção dos pequenos por algum tempo, dada nossa experiência tão especial de plastic fishing em Amsterdã. No entanto, o passeio foi curto, e eles não apreciaram as obras tanto quanto eu (compreensível). Mesmo que breves, acredito que passeios em museus enriquecem o repertório cultural, estimulam a imaginação e a investigação, e oferecem uma vivência diferente para as crianças. Sou fã!
No nosso último dia, como se não tivéssemos explorado parquinhos suficientes, rsrs, seguimos a dica preciosa de uma vizinha querida e descobrimos o Parque do Alvito: um paraíso para as crianças, um refresco para os pais, um ambiente agradabilíssimo, rodeado por natureza, com opções de brinquedos para diferentes idades, sombra, picolé, espaço para caminhar e também para jogar uma canga no chão e descansar.
Lisboa, obrigada e até a próxima! Como não poderia terminar o texto de outra forma, segue uma poesia lindíssima de Fernando Pessoa sobre a cidade que mora no meu coração.
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores…
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.
Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos.
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.
Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
À força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.
Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), em Poesias de Álvaro de Campos, 1934
Que delícia de passeio Dai...Não consegui abrir o vídeo, de forma alguma!Não sei se foi só comigo, ou se realmente ele não abre nesta página.
Bjinhos e boa semana