Amsterdã com crianças: um ponto de vista diferente
É verdade: nossa tão sonhada e planejada vida nômade temporária está acontecendo! A intensidade dos dias me inunda com um cansaço bom. Aquele cansaço de tempo bem aproveitado, de mente fervilhando.
É verdade: nossa tão sonhada e planejada vida nômade temporária está acontecendo! A intensidade dos dias me inunda com um cansaço bom. Aquele cansaço de tempo bem aproveitado, de mente fervilhando com novos cenários e experiências. Aquele cansaço de andar até os pés reclamarem, mas que logo passa ao notar uma fachada colorida e antiga tão maravilhosa que vale a foto, ou ao perceber o linguajar e os temperos tão diferentes dos nossos. Me emociono ao ver meus filhos curtindo tanto quanto eu. Tentamos respeitar ao máximo suas necessidades (atenção, comida, parquinho) ao mesmo tempo em que eles aprendem a esperar quando não é possível atendê-las imediatamente.
A chegada no Amsterdam Farm Lodge, uma acomodação simples mas cheia de natureza e história, encantou. Ela faz parte de um projeto de fazenda urbana sustentável chamada NoordOogst, que procura diminuir a pegada ecológica. Os móveis e a decoração são feitos, em sua maioria, de materiais naturais e reciclados; o restaurante próximo (Pof) usa produtos locais quase que exclusivamente; o parquinho de madeira fica literalmente no meio do mato e rodeado por um pequeno lago. Há criação de galinhas e porcos e um apiário.
Por incrível que pareça, não acordava com os galos cantando, mas sim com a claridade do quarto. O cansaço e o jet lag das crianças as faziam dormir até mais tarde, o que me proporcionava silêncio para trabalhar antes do movimento na casa. Para chegar até o centro de Amsterdã, chamávamos um Bolt (um aplicativo equivalente ao Uber) até à margem do rio (onde fica o Museu STRAAT, de arte de rua e grafitti) para então embarcar no ferry gratuito. Chegávamos na Estação Central (um prédio lindíssimo) e, dali, caminhávamos para as mais diversas atrações: Museu NEMO (ciência), Museu Marítimo, Biblioteca Pública (OBA), ou para tomar um tram (trem de superfície) para um dos parques famosos: Vondelpark e Amstelpark. Ao explorar o primeiro, alugamos uma cargo bike para carregar as crianças - uma baita diversão para elas e um alento para as perninhas cansadas!
Algumas experiências marcaram nossa estadia em Amsterdã:
Hospedagem em NoordOogst: lá, a natureza é integrada à comunidade em sua forma menos manicurada possível. A grama alta denuncia que há outras atividades prioritárias; todos ao redor ajudam nas tarefas e a comunidade recebe voluntários regularmente - um verdadeiro exemplo de colaboração. As crianças correram livres e soltas, andaram com as bicicletas emprestadas da vizinhança, alimentaram as “popós” (como eles apelidaram as galinhas) e se divertiram criando cenários imaginários no jardim enorme. Fizemos fogueira para esquentar do vento frio numa espécie de lareira portátil e um churrasco na noite de despedida.
Parquinhos públicos: impecáveis e bem estruturados visando a segurança das crianças, eles fizeram a alegria dos nossos filhos inúmeras vezes. A maioria foi mapeada por nós, mas um, especificamente, rendeu a história de um próximo texto.
OBA: a biblioteca pública de Amsterdã é a maior da Europa, com 28.000m2. Foi inaugurada em 2007 e tem uma seção infantil espetacular, com poltronas confortáveis e nichos para leitura, uma mesa com material para desenho e uma tela que dá vida às criações. Passamos horas agradáveis descansando o corpo e estimulando a mente de uma maneira diferente. Do último andar a vista é incrível, dizem; mas estávamos exaustos de um dia cheio: era hora de voltar para casa.
Museus (NEMO, Marítimo, STRAAT): interativos e com estrutura incrível, todos prenderam a atenção das crianças por várias horas. O Museu STRAAT é amplo, tem artes coloridas e imensas, inclusive uma deslumbrante do brasileiro Fábio de Oliveira (o Crânio). Os pequenos se distraíram com a “caça ao tesouro”: observaram as obras e responderam a algumas perguntas para, no fim, resgatarem um prêmio (uma cartela de adesivos). Um baita estímulo para contemplar detalhes, sentir o que a arte desperta em nós e motivar a volta completa no museu. Já o Museu Marítimo nos presenteou com outra atividade sensacional: um passeio pelos canais da cidade para pescar… plástico! Cada tripulante ganhou uma rede e o capitão manobrava o barco para que pudéssemos catar lixos que encontrávamos pelo caminho, que eram imediatamente separados de acordo com o tipo para serem reciclados posteriormente. Muito daquele plástico, inclusive, vira parte do próprio barco. O passeio durou quase uma hora e estava incluso no preço do ingresso. Ironicamente, uma sacola plástica travou o motor do barco e nos parou momentaneamente; assim que o capitão conseguiu retirá-la, continuamos nossa jornada. Observamos, do ponto de vista dos canais, o Jardim Botânico, o Zoológico, moinhos de vento e as famosas houseboats (ou barcos-casa). E por falar nisso…
Nossas últimas duas noites em Amsterdã foram muito especiais. Kai, nosso filho mais novo, é obcecado por barcos. Nada mais justo que, ao visitar a cidade fundada em 1250 de nome “barragem em área alagada” (Aeme Stelle Redamme em holandês medieval, hoje conhecida como “Veneza do norte”), ele tenha vivido uma experiência marcante. Dormimos num barco de 41 anos na marina de Monnickendam, uma vila medieval com menos de 10 mil habitantes fundada em 1355 por monges nos arredores de Amsterdã. Sandra, a dona, realmente mora lá! Durante os meses de verão, ela aluga a própria casa no Airbnb para ganhar um dinheirinho, e se muda para um barco próximo, menor. Havia dois quartos, sala e cozinha integradas, e um deck onde pudemos admirar o pôr do sol e imaginar uma vida diferente… Quem sabe um dia! O balanço era quase imperceptível e tudo funcionou perfeitamente. Um momento que ficará na memória dos pequenos para sempre!
Não posso fechar esse texto sem mencionar a preocupação da cidade de Amsterdam com a sustentabilidade - o governo pretende reduzir em 55% a emissão de CO2 até 2030 e em 95% até 2050. Daqui a 27 anos, prediz-se que a cidade será 100% circular, ou seja, tudo o que for produzido e consumido será reaproveitado. Atualmente, tanto a energia eólica quanto a solar cobrem 80% da eletricidade das casas. Pudemos apreciar isso na prática. O primeiro Bolt que pegamos ao sair do aeroporto era um Tesla (carro elétrico), e o motorista nos contou que o governo tem realizado testes para deixar o centro da cidade livre de carros. Trens de superfície e ônibus também rodam sem combustível fóssil, além do costume de usar a bicicleta: considerada um símbolo nacional desde 1920, ela representa valores como a independência, o autocontrole e a modéstia na cultura holandesa.
Amsterdã, obrigada pela experiência incrível!
Que alegria poder acompanhar a felicidade e a aventura da família ❤️🥰 ! 🙏🏻🙌🏼
Muito legal poder acompanhar vcs assim. Curiosa pra saber sobre a escola em Bali e como as experiências mudam depois da vida nova virar rotina.