Yours to discover
A minha primeira viagem totalmente sozinha aconteceu em janeiro de 2007. Já morando no Canadá, juntei os poucos trocados que sobraram no fim do mês para comprar uma passagem de ônibus da empresa Greyhound e encarar os 2099km de Winnipeg a Toronto.
Texto escrito em Prilly, em setembro de 2011.
A minha primeira viagem totalmente sozinha aconteceu em janeiro de 2007. Já morando no Canadá, juntei os poucos trocados que sobraram no fim do mês para comprar uma passagem de ônibus da empresa Greyhound e encarar os 2099km de Winnipeg a Toronto. Mal poderia imaginar que, algum tempo depois, estaria morando na maravilhosa “T-dot” (um dos apelidos de Toronto).
O aprendizado foi incrível. Os pés doíam por não conseguirem acompanhar a euforia de ter aquele lugar inteirinho para mim: Yours to discover, dizia a placa dos carros da província de Ontário. A sensação de liberdade era extasiante. Eu tinha que decidir onde ficar, o que comer, quais atrações visitar, a hora de dormir e acordar, o que fotografar. Coincidência ou não, encontrei alguns dizeres em um livro (The real meaning of life - David Seaman) que traduziam exatamente o que sentia naquele momento:
“[...] sabendo que você pode fugir agora mesmo e nunca mais ser encontrado. Sentindo-se verdadeiramente livre. Sempre tendo uma ideia de onde está mas, ao mesmo tempo, sentindo-se perdido. Perdido em um mar de gente que você não conhece.
Adam E. Heller (tradução livre)”.
Senti-me tantas vezes pequenininha entre os prédios modernos e gigantescos do Financial District; em frente ao grandioso – e, naquela estação do ano, parcialmente congelado – lago Ontário; em meio à multidão de rostos que muitas vezes denunciavam sua origem na Dundas Square. Achei graça quando alguém veio se oferecer para tirar minha foto na frente da CN Tower, ao perceber que meu esforço para acertar o ângulo estava sendo inútil. Voltei com um forte desejo de continuar a descobrir mais do mundo. E, aos poucos, o sonho foi acontecendo. São quase 35 países na mala (ou melhor, mochila). A maioria dessas viagens foi feita com dinheiro contado, ficando em albergues ou lugares muito simples, comendo comida local barata e priorizando passeios gratuitos. Mas o aprendizado... ah, que riqueza!
Olho para essa experiência como muito carinho. Foi o início de um novo jeito de enxergar o mundo e a mim mesma; de entender que a vida é feita de desafios e que cabe a nós decidir como encará-los: como infortúnios ou como oportunidades de crescimento. Oh, Canada! I’ll be back!